quinta-feira, abril 07, 2005

Margarida dos cabelos negros

A noite é uma anedota que acaba de ser contada por cima dos copos de cerveja fresca de fim de tarde. Há uma brisa fria que obriga aos casacos e, depois de estendermos o olhar uma última vez sobre a cidade e o rio, dizem-nos que é hora de voltar a casa. É muito mais fácil quando conhecemos tudo, sabemos o caminho, temos um mapa, vemos os sinais e a estrada não é mentirosa, mas a viagem tem mais sabor quando cada cruzamento é uma incógnita e o destino não vem detalhadamente pré-definido num pacote promocional de uma agência de viagens com nome exótico. Hoje vi-te. Acho que eras tu, subias a rua do Carmo, com duas amigas, subias a rua e parecias mesmo tu, bonita e doce como só tu, se bem que nem te conheço, vi-te uma vez só e ainda não sei bem se estava a sonhar, foi surreal ou algo assim, sussurraste palavras mas eu, bêbado pelo momento, fiquei apenas concentrado nos teus olhos. Por isso, quando passei por ti ao longe, tive dúvidas e tive medo e não soube o que dizer. Inventei para mim uma desculpa, ou duas, para não te ter ido falar. Dizem que a noite pode ser assim muitas coisas, pode ser um castigo ou pode ser um bálsamo, nessa incerteza nocturna eu afastei-me das luzes e corri muito pelas ruas de pedra dura, corri a noite toda às voltas pelos caminhos do castelo. Quando voltei à rua do Carmo, sozinha e fria, já lá não estavas. Tu, ou alguém que para mim eras tu. Apanhei o avião e voei para longe. Estava frio, agasalhei-me com um cobertor e tapei os ouvidos com os headphones ligados ao leitor de mp3 pequenino escondido no bolso do casaco. Olhei para o céu. “When you wish upon a star”, cantava uma menina aos meus ouvidos. Não eras tu, dessa vez ficaste por casa, fizeste silêncio ao convite que te fiz para conhecer o mundo e preferiste ficar embrulhada nos teus lençóis confortáveis a bebericar chá de menta. Eu mantive a promessa feita numa noite portuguesa de Inverno. Sabes, esteve mais frio do que pensei e o cobertor foi demasiado pequeno, mas vi a chuva de cores mais bela que alguma vez os meus olhos sonharam.
NC

5 Comments:

At 1:14 da manhã, Blogger Patrícia Evans said...

Que bom que viste a chuva colorida. Chuvia lá fora e chuvia lá dentro, bem lá dentro, no mais fundo de ti.Que bom! Choveram palvras lindas, maravilhosamente lindas...

 
At 1:16 da manhã, Blogger Patrícia Evans said...

emenda: chovia.desculpa!!!

 
At 7:17 da manhã, Blogger Silvia Chueire said...

Gostei de ler este texto, esta fantasia. : )

Abraço

 
At 5:28 da tarde, Blogger Pedro said...

olá!

tenho acompanhado o blog desde início. relativamente ao paulo já poucas dúvidas me restavam, mas a ti tenho de dizer-te também que tens melhorado post após post.

abraço!

Pedro Caetano (www.paranoiasavulsas.blogspot.com)

 
At 12:00 da manhã, Blogger Nuno Catarino said...

Obrigado Pedro, Eugênia e Juliet! :)

 

Enviar um comentário

<< Home